Capriccio Stravagante

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sábado, setembro 29, 2007

Callas - Vida e arte


Maria Callas é daqueles mitos do qual muito pouco ou nada ficou por dizer. Desde as especulações dos média sobre a sua vida privada e artística especialmente após o seu envolvimento com o grande magnata grego Aristotoles Onássis até às críticas mais ferozes de performances menos felizes, tudo contribuiu para lançar o grande soprano para as luzes da ribalta do canto lírico.
Se é verdade que falar de Callas significa na maior parte das vezes a associação quase inevitável da vida privada com a carreira artística da grande diva, também é verdade que cair nessa tentação tende a reduzir irremediavelmente a sua dimensão enquanto intérprete.
Apercebi-me disso recentemente quando tive acesso pela 1ª vez a alguns registos audio realizados aquando das masterclasses que Callas deu em Nova York entre 1971-72. Nessa altura, com a voz cansada e destreinada, fruto da longa retirada que se tinha já verificado dos grandes palcos, Callas nem por isso abdica do mote que norteou toda a sua carreira interpretativa e que tanto captivou o público-uma total e incondicional entrega à música e ao seu contexto dramático, às personagens e à Ópera no seu todo. E escrevo ópera com maiúscula porque era assim que Callas via a mais sublime de todas as artes.
Nessas masterclasses (editadas pela EMI e que recomendo vivamente), Maria Callas raramente fala de técnica, remetendo as aulas para aspectos mais ligados à expressão dramática, ao texto(sempre o texto), à intensidade do gesto - "don't think about the notes now, just let your self go... sing with passion! "
Pode não se gostar do seu timbre algo raro, pode até dizer-se que a afinação nem sempre era perfeita, mas quantos sopranos se contam hoje em dia que se entreguem à sua arte com a mesma intensidade e veracidade?
Link:
http://www.callas.it/english/home.asp

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

Às vezes somos muito crueis nos comentários, quando se fala na desafinação dela, etc. As gravações são muitas vezes ao vivo e todos têm dias, até ela... Nas gravações de estúdio está geralmente genial. A questão de não falar de técnica na tal master-class de NY fez-me lembrar uma partitura a que tive acesso há alguns anos publicada pelo pianista que fez a estreia das variações op. 27 do Webern. O Webern escreveu uma série de indicações a lápis e este pianista publicou a partitura assim mesmo. O curioso é que as indicações do Webern não falam uma única vez em série ou quaisquer outras questões técnicas de composição; faz uma série de comentários sobre fraseado, articulação, direcção, etc, o tipo de comentários que podiam estar escritos num nocturno de Chopin...
Parabéns pelo blogue, não conhecia.

12:01 da tarde  

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