Capriccio Stravagante

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domingo, agosto 06, 2006

Antes de Bach



"Alguns dos elaborados esforços dos alemães, especialmente na scordatura, provaram ser um verdadeiro " cul-de-sac", mas seria difícil de imaginar as sonatas e partitas de J.S. Bach para violino solo sem o nível técnico previamente alcançado em termos de cordas dobradas nas obras de Biber e Walther" .

David Boyden, " The history of violin playing from it's origins to 1761"

Até meados do século XVII as cortes alemãs e austríacas foram dominadas por músicos/ violinistas vindos de Itália, altamente habilidosos e que tinham no seu curriculum uma já considerável experiência no que diz respeito a estilos e formas musicais, muito em especial a sonata.

Biagio Marini (c. 1587-1663), músico de Brescia, viu publicado o seu livro op.8 ( dos mais interessantes da sua vasta colecção) enquanto se encontrava ao serviço da corte de Wittelsbachs em Neuberg na Alemanha entre 1623-26). Nesta sua colecção de sonatas para violino, Marini faz uso de alguns recursos técnicos como cordas dobradas, etc. Como ele muitos outros compositores italianos em serviço na Alemanha, deixaram marcas de influência que serviriam de catalizador para o surgimento de um estilo nacional marcado pelo virtuosismo.

Johann Heinrich Schmelzer ( c. 1620-1680), iniciou a sua carreira como violinista na corte imperial Vienense e apesar do seu talento era apenas mais um músico num local onde o cargo de Hofkapellmeister tinha vindo desde há muitas décadas a ser preenchido apenas por italianos. No entanto, e já no final da sua vida, Schmelzer decidiu inverter esta tendência. A sua colecção de sonatas de 1664 intitulada "Sonatae unarum fidium" constituiu a primeira edição de sonatas para violino feita por um músico não italiano. Estas obras apesar de não alcançarem o estilo extrovertido de Biber, são recheadas de toques de génio na forma criativa como exploram as capacidades expressivas do violino e o uso medido do virtuosismo. As primeiras 4 sonatas são construídas sobre um baixo ostinato, forma que dominará grande parte da literatura violinística deste período.

Próximo do final do século, 2 compositores contemporâneos de Corelli surgem como os percursores de uma técnica verdadeiramente complexa e cada vez mais virtuosista, desenvolvendo o estilo descritivo ou programático - Heinrich Biber (1644-1704) e J.J. Walther ( c. 1650-1717) .

Nas suas duas colecções de sonatas para violino e baixo, Biber explora novas sonoridades e inovações técnicas produzindo passagens de grande proeza no que diz respeito a cordas dobradas, arcadas e extensão das notas. Especialmente nas sonatas do rosário, faz uso da scordatura ( técnica quase exclusiva da escola alemã deste período) que consiste numa nova afinação das cordas de acordo com a tonalidade da obra.Esta forma de afinar o violino, produz uma sonoridade muito particular para cada uma das tonalidades em que as sonatas estão escritas.

“ De todos os violinistas do século XVII, Biber parece ser o melhor e os seus solos são dos mais difíceis e belos que eu tenho visto deste período.”

Charles Burney

Igualmente virtuoso e fértil na produção de literatura absolutamente inovadora para violino, surge J.J. Walther . Na sua obra, a abordagem programática é particularmente evidente sobretudo na imitação de instrumentos e animais como é o caso da última peça do seu "Hortulus Chelicus" com o curioso título “ Serenata A un Coro de violini, Organo Tremolante, Chitarrino, Piva, Due Trombe e Timpani, Lira Todesca, et Harpa Smorzata, per un violino Solo”.

A referência a apenas 3 dos principais representantes da escola de violino alemã da segunda metade do século XVII, é o que é possível num texto que se pretende breve e sobretudo convidativo a uma análise mais profunda por parte dos leitores. Outros autores como Johann Paul von Westhoff(1656-1705) ou Georg Muffat(1653-1705) merecem local de destaque em artigos posteriores.
A música referida aqui apesar de raramente representada em concertos actualmente, constitui pela sua importância a nível musical e tendo em conta o contexto histórico em que foram escritas uma inegável contribuição para as obras consideradas emblemáticas do barroco tardio alemão para violino.

Obras:

Johann Heinrich Schmelzer - "Sonatae unarum fidium" (1664)

Heinrich Ignaz Franz Biber - " Sonatas do Rosário" ( 1674)." 8 sonatas para violino e baixo contínuo" ( 1681).

Johann Jakob Walther - " Scherzi da Violino Solo con il Basso Contínuo per l'Organo o Cimbalo, accompagnabile anche con une Viola o Leuto" ( 1676)." Hortulus Chelicus" ( 1688).


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