Capriccio Stravagante

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sábado, maio 27, 2006

Carlo Farina - Capriccio Stravagante



“ Em suma, nas mãos de um instrumentista habilidoso, o violino representa a doçura do alaúde, a suavidade da viola*, a majestade da harpa, a força da trompete,…a melancolia da flauta, a patética qualidade do cornetto; cada uma destas variedades, tal como num grande órgão, podem ser ouvidas com maravilhoso artifício”.
G.B.Doni,
Annotazioni sopra il Compendio de Generi e de Modi della Musica
Roma, 1640
* Viola de Gamba.


As 6 sonatas e partitas de J. S. Bach, hoje consideradas como um marco inultrapassável da literatura para violino, do ponto de vista técnico e musical, raramente levam, na maior parte das vezes, os instrumentistas a questionar-se sobre os seus antecedentes musicais ligados sobretudo à evolução idiomática deste instrumento que se fez sentir a partir do início do século XVII e sem a qual dificilmente a obra-prima do grande mestre alemão teria surgido, pelo menos na forma em que foi composta.
A descrição feita por G.V.Doni no inicio deste texto, apesar de aparentemente exagerada, é um testemunho de como o violino era já apreciado pelas suas qualidades expressivas pelos músicos no início do séc. XVII em Itália. Esta perpectiva, válida para todos os outros instrumentos, revela a consciência crescente dos músicos para as capacidades técnicas e expressivas específicas de cada um deles e neste caso particular, do violino.
O significado e importância do termo “idiomático” é evidente no contexto de um rápido desenvolvimento da música e técnica do violino que se verificou no decorrer de todo o século XVII. Uma música que é técnica ou musicalmente idiomática para o violino, envolve características que são particularmente agradáveis e confortáveis para o instrumento. Por exemplo, a escrita harmónica em cordas dobradas é especialmente idiomática para o violino (também para outros instrumento como a gamba). Mas, por outro lado, essa mesma técnica tem as suas especificidades consoante o instrumento para o qual se destina.
Ao longo de todo o século XVII, a música escrita para o intrumento foi espelhando um rápido desenvolvimento, sobretudo técnico, através de obras consideradas emblemáticas na altura e cujos autores eram eles próprios violinistas. O reportório italiano e alemão do início do barroco está repleto de obras, na sua maior parte sonatas, onde abundam, através especialmente da variação, passagens altamente virtuosistas que têm como objectivo exactamente evidenciar todas as qualidades e capacidades do instrumento (inclusive de imitar outros instrumentos e até animais). O Capriccio Stravagante de Carlo Farina, é disso um excelente exemplo.
Farina, violinista italiano, trabalhou na corte de Dresden, provavelmente sob a orientação de Schütz. Escreveu entre os anos de 1626 e 1628, 5 livros de peças instrumentais. O Capriccio pertence ao 2º livro com o título em alemão “Ander Theil neuer Paduanen, Galiarden, Couranten, französishen Arien…a 2.3.4. voci” (1627).
Nesta peça, Farina faz uso de todo o tipo de truques e efeitos musicais para imitar outros instrumentos ( lira, pifferino, trombetta, flautino e tamburo) e animais ( la gallina, il gallo, il gatto e il cane). Nesta peça é igualmente frequente o uso de cordas dobradas em acordes de 2 e 3 notas. A escrita notável de Farina influenciou outros compositores da época que usaram os mesmos recursos técnicos nas suas obras. Aliás, esta escrita de polifonia quase rudimentar para o violino, foi rapidamente adoptada e desenvolvida pelos mestres alemães contemporâneos de quem apenas Heinrich Schmelzer(c.1620-1680) e Heinrich Biber(1644-1704) são os principais representantes e cuja escola de violino nos leva directamente à música de Bach. Mas disso falaremos mais tarde.
Edições: Otto Heinrich Noetzel Verlag ( Harnoncourt).
Discografia: " Legrenzi, invenzioni e stravaganze"
Europa Galante - Fabio Biondi
Opus 111






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5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns pelo blog! Acho que é uma iniciativa muito interessante.
Gostava de ver essa partitura 'stravagante'!

12:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Super color scheme, I like it! Keep up the good work. Thanks for sharing this wonderful site with us.
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11:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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4:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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7:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Belo Trabalho. Acho que é uma boa ideia aproveitar este blog para divulgar e dar a conhecer músicos e outros artistas portugueses que tenham ficado no esquecimento.

9:09 da manhã  

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