Vou-vos contar uma pequena história.
É a história de uma cadeira, daquelas de praia que se encolhem e se levam para todo o lado. Pois bem, essa cadeira vivia num sítio em Moçambique junto ao Maputo chamado "Catembe". Para se chegar lá, basta apanhar o barco que atravessa o rio. O barco faz essa travessia há já algumas décadas mas a cadeira, essa é bem mais velha que isso. Durante 50 anos ou mais serviu de abrigo a um homem que em quase todos os finais de tarde nela se sentava com uma "Laurentina" na mão e ali ficava, sem pensar em grandes coisas, apenas a respirar o ar quente Africano ou a apreciar a linha traçada no horizonte pelo laranjal que ele próprio tinha plantado e que ainda hoje é visível no Google Earth. Um "belo dia", essa cadeira teve que empreender a sua primeira e última viagem . Veio para Portugal na companhia do homem a quem pertencia e que não teve coragem de se separar dela. Com a cadeira veio também um punhado de terra vermelha que ele depositou no quintal mal cá chegou. No mesmo dia, já ao pôr do sol(outro)abriu a cadeira e nela se sentou a olhar o horizonte. Naquele momento descobriu que o laranjal apenas se adivinhava no horizonte e o ar já não era quente e húmido. Os pulmões estranharam e a cadeira também porque sentiu que o seu coração já não batia da mesma maneira. De repente, a cadeira percebeu que aquele corpo que nela se apoiava oferecia agora mais resistência, era mais pesado que o costume ( talvez o peso do vazio). Quando finalmente viu que estava sozinha, perguntou-se a si mesma:
- Então e agora, velha cadeira, queres regressar ? -e pensou-Que importa isso agora?